Ao fazer escolhas, homens e mulheres empregam estratégias diferentes. Pelos menos é o que sugere uma revisão publicada no Behavioral Brain Research, que reuniu estudos sobre processos de tomada de decisão. A maioria dessas pesquisas usa jogos de aposta para avaliar como voluntários se comportam. Um método específico, o Iowa Gambling Task (IGT), que simula tarefas que exigem escolhas, possibilita que cientistas acompanhem e identifiquem como perdas e ganhos são balanceados. Em uma simulação, jogadores de ambos os sexos receberam quatro montes de cartas e foram instruídos a escolher uma carta de cada um por vez. Cada uma sinalizava se o jogador iria receber ou perder determinada quantia. Os montes (isso os voluntários tinham de perceber sozinhos) estavam organizados de acordo com padrões específicos, não muito fáceis de serem identificados: dois continham cartas com recompensas altas e frequentes, porém misturadas a algumas que implicavam grandes perdas, de forma que escolher suas cartas constantemente implicaria fatalmente grandes perdas; os outros dois ofereciam pequeno retorno financeiro, mas com baixo risco de prejuízo ao longo do tempo.
Os pesquisadores observaram que as mulheres foram mais influenciadas pelas vitórias ou derrotas imediatas. Isto é, logo que perdiam uma quantia em um monte de cartas, tendiam a mudar para outro, demorando mais a adotar uma boa estratégia. Já os homens tendiam a considerar o saldo geral de seus lucros, sendo menos sensíveis a pequenas perdas, atendo-se aos montes que garantiam ganhos mais consistentes. Os cientistas também detectaram diferenças no funcionamento cerebral durante a tarefa, na região do córtex órbito-frontal: as mulheres apresentaram maior atividade na parte medial, envolvida na percepção de padrões e de recompensa imediata; os homens, na região dorsal, relacionada a padrões irregulares e recompensa de longo prazo.
Seriam, assim, as mulheres menos “aptas” para tomar decisões? O neurobiólogo Ruud van den Bos, da Universidade de Utrecht, na Holanda, autor do estudo, explica que essa é uma conclusão equivocada. “A maior demora em identificar os padrões significa que elas levam mais tempo colhendo informações. Essa exploração detalhada implica maior sensibilidade a mudanças”, diz. Se, por exemplo, os padrões fossem alterados no meio da tarefa, é bem provável que elas identificariam os novos padrões mais rapidamente. Ele esclarece que o IGT foi desenvolvido para valorizar estratégias de longo prazo, mas argumenta que mulheres levam vantagem ao tomar decisões em que é preciso considerar detalhes. “Obviamente, escolhas reais são muito mais complexas do que jogos de laboratório. Não há estratégia melhor: na vida, às vezes precisamos considerar o aspecto geral de um problema, às vezes suas nuances”, explica o neurobiólogo. E sempre há uma minoria de mulheres que executa o IGT da mesma maneira que homens e vice-versa.