Criptografia é única solução para escapar da espionagem', diz hacker

Criptografia é única solução para escapar da espionagem', diz hacker

'Criptografia é única solução para escapar da espionagem', diz hacker

 

 

Oficina de criptografia ensina como driblar a espionagem - e nosso repórter esteve lá. Entenda como o mecanismo pode ajudar a proteger seus e-mails e arquivos

por André Jorge de Oliveira
Editora Globo
Garoa Hacker Clube, em Pinheiros: espaço é laboratório comunitário e incubadora de inúmeros projetos e eventos (Foto: Reprodução/Facebook)

 “Todo mundo que se importa com democracia e liberdade precisa aprender alguma coisa sobre criptografia”, diz o mote do evento “Privacidade: mão na massa!”, realizado no Garoa Hacker Clube. O encontro, como a frase sugere, foi voltado ao público leigo – pessoas que entendem pouco ou nada de programação. Mesmo assim elas não estão isentas de terem sua privacidade invadida, como mostraram as denúncias de Edward Snowden sobre a espionagem em massa praticada pelo governo dos Estados Unidos.

As revelações do ex-agente da Agência Nacional de Segurança (NSA) amplificaram a discussão sobre até que ponto governos ou empresas podem bisbilhotar na vida dos cidadãos em nome de uma suposta segurança nacional, sem ferir o direito constitucional à privacidade. Para o hacker Luciano Ramalho, membro-fundador do Garoa e organizador do evento, Estados Unidos, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália e Canadá são, hoje, as “forças malignas” da espionagem no mundo.

Na visão de Ramalho, quando o assunto é espionagem, o cenário mundial é um tanto preocupante. “Rússia e China não são baluartes de democracia; a Índia está com um governo de direita que acabou de comprar um mega sistema de espionagem; a França tem longa tradição de espionar seus cidadãos e de vender sistemas para ditadores”, diz. Neste contexto, o papel do Brasil na luta contra a espionagem seria fundamental. “Temos uma parceria com a Alemanha, que tem um grande trauma a esse respeito por causa dos nazistas. O Brasil não tem nada a perder, não temos indústria deste ramo, estamos em condições privilegiadas”, afirma.

A criptografia, que em grego significa literalmente “escrita escondida”, pode ser uma ferramenta poderosa para garantir a privacidade nas comunicações, sobretudo de correio eletrônico. Os principais protocolos de e-mail não são cifrados – ou seja, a mensagem é enviada como se fosse um cartão postal, e não uma carta em um envelope. Qualquer espião que tenha interesse naquela informação não terá muita dificuldade em interceptá-la.

O mecanismo criptográfico, basicamente, “embaralha” um texto claro e o transforma em um texto cifrado, de acordo com um algoritmo. Isso torna o trabalho de um espião infinitamente mais difícil: sem ter acesso à senha gerada no processo, ele teria que gastar milhões e anos de trabalho intenso com supercomputadores para conseguir quebrar o algoritmo.

O tipo mais seguro de criptografia, a de chaves assimétricas, gera duas senhas: uma é secreta e jamais deve ser divulgada, a outra é pública e pode ser distribuída a qualquer interlocutor com quem se deseje travar uma conversa impossível de se espionar. Um pode decifrar a mensagem do outro através da própria chave. Funciona assim:

 

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Alice cifra sua mensagem e obtém duas chaves diferentes, a vermelha é a confidencial e a verde é a pública. Alice informa sua chave pública para Bob (Fonte: Wikimedia Commons)

 

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Bob cifra uma mensagem utilizando a chave pública de Alice, que poderá decifrá-la através de sua chave confidencial (Fonte: Wikimedia Commons)

O GnuPG é um dos programas mais recomendados por especialistas em criptografia, e pode ser baixado aqui em versões para Windows ou Mac.

>>> Esta reportagem faz parte da série Especial: privacidade. Nesta semana, a GALILEU publica uma série de reportagens sobre o tema.