Os cientistas talvez possam proteger os seres humanos dos vírus da gripe aviária, antes mesmo que eles evoluam e se propaguem.
Uma vacina experimental, desenvolvida especificamente para combater um vírus H5N1 da gripe aviária, pode proteger as pessoas de uma cepa desse vírus criada em laboratório para ser transmitida entre mamíferos. A descoberta foi publicada em 3 de setembro no site da revista Journal of Clinical Investigation.
A vacina foi produzida do mesmo modo como as vacinas contra a gripe sazonal, mas foi testada em uma gripe H5N1 sintética manipulada para se espalhar entre furões — um modelo de infecção humana. Realizar qualquer pesquisa desse tipo tem sido alvo de um insistente e acalorado debate, além de uma moratória autoimposta.
“Os vírus transmissíveis são muito assustadores, porque o H5N1 tem uma taxa de mortalidade muito elevada”, diz o principal autor do estudo James Crowe, da Vanderbilt University em Nashville, no Tennessee. Mas ele afirma que o estudo justifica criar patógenos perigosos como esses no laboratório. “Nosso trabalho mostra que há um mecanismo muito claro para as vacinas convencionais matarem ‘essas coisas’”.
Crowe e seus colegas colheram o sangue de quatro pacientes que receberam a vacina experimental e isolaram os anticorpos que podiam atacar o vírus H5N1. Em seguida, testaram esses anticorpos para determinar se eles eram capazes de proteger o organismo contra o vírus H5N1 sintético — o que, para um cientista, é a melhor estimativa do ‘aspecto’ de um vírus potencialmente pandêmico.
No entanto, os cientistas tinham decretado uma moratória voluntária para trabalhar com cepas altamente patogênicas por temerem que elas pudessem sair do laboratório ou serem usadas como armas biológicas.
Para contornar a situação, os pesquisadores utilizaram sequências de DNA do vírus sintético para criar pseudoversões que não causariam a doença. Eles descobriram que os anticorpos do sangue dos pacientes podiam combater a falsa gripe transmissível ao se ligarem entre as mutações que permitem sua propagação entre os mamíferos.
Richard Webby, um especialista em gripe no St. Jude Children’s Research Hospital em Memphis, no Tennessee, diz que a descoberta confirma que as vacinas baseadas no vírus aviário ainda podem ser úteis contra as cepas que se tornam mais infecciosas. “Essas mudanças de transmissão de fato não pareciam afetar a proteção oferecida pelas vacinas”, explica ele. Segundo Webby, a abordagem poderia orientar o desenvolvimento de vacinas para outros vírus futuros da gripe aviária, como o H7N9.
Simon Wain-Hobson, presidente da Fundação para a Pesquisa de Vacinas,em Washington DC, está menos convencido de que o vírus sintético poderá antecipar exatamente o que uma verdadeira pandemia de H5N1 pode fazer. Além disso, ele diz que o vírus artificial não resultou em uma vacina melhor, o que, de acordo com alguns cientistas é a razão de realizar pesquisas com vírus transmissíveis a seres humanos.
Este artigo foi reproduzido com permissão do blog de notícias do mundo da ciência Nature news blog. O artigo foi originalmente publicado em 3 de setembro de 2013.