A vida é um acaso? Não, segundo a tese do Multiverso

A vida é um acaso? Não, segundo a tese do Multiverso

Como a teoria do Multiverso explica a configuração perfeita do universo para permitir a existência das estrelas, dos planetas, e da vida.

Nosso universo nasceu há aproximadamente 13,8 bilhões de anos em um evento denominado Big Bang. Instantes após esse evento, o universo inflou do tamanho de uma simples molécula para o tamanho de uma galáxia em um trilionésimo de segundo. Após esse fenômeno denominado inflação, a velocidade de expansão diminuiu consideravelmente.

Mas no final do século passado, a comunidade científica ficou chocada ao perceber que a velocidade de expansão do universo vem aumentando desde então. Os pesquisadores atribuíram à energia escura como sendo a força responsável por essa aceleração.

Galáxia

energia escura possui um funcionamento oposto a gravidade. Quando lançamos uma bola de tênis para o alto, a tendência é ela desacelerar devido à força da gravidade e cair. Com o universo, deveria ser a mesma coisa. As galáxias estariam se afastando uma das outras com a força do Big Bang (impulso dado pela pessoa que jogou a bola), mas a tendência seria que essa velocidade de expansão diminuísse, até o ponto de parar e o universo se contrair. Contudo, vemos uma situação contrária. É como se alguém jogasse a bola de tênis para o alto e ela continuasse acelerando infinitamente: uma gravidade repulsiva estaria agindo.

E a força dessa energia escura parece ser perfeita para configurar o universo como ele é. Se ela fosse um pouco menor, não seria capaz de manter ou acelerar a expansão do universo, e este passaria a se contrair até o ponto de retornar ao estado inicial, um novo Big Bang. Por outro lado, se a força da energia escura fosse um pouco maior, não seria capaz de manter a matéria coesa no universo, e os átomos que formam eu, você, os planetas, estrelas  e galáxias não permaneceriam unidos, e o universo seria um monótomo mar de partículas espalhadas.

Mas por alguma razão desconhecida, a força da energia escura é perfeita para permitir a existência de vida no universo. Por que?

Vários universos: o Multiverso

Multiverso

A resposta pode estar em uma teoria muito debatida desde meados do séculopassado. A ideia do Multiverso é apoiada pela Teoria das Cordas, uma teoria que pode explicar o universo em seu nível micro e macroscópico. Pensar no nosso universo como sendo parte de uma infinita rede de universos, denominada Multiverso, pode ser a solução para vários mistérios da ciência.

Segundo a teoria dos vários universos, a força da energia escura é perfeita porque ela é simplesmente um acaso, da mesma forma que a Terra está na distância exata do Sol para permitir a existência de vida. Um pouco mais perto, e nosso planeta seria quente demais. Um pouco mais longe, e nosso planeta seria muito frio.

Contudo, isso não significa que temos uma imensa sorte de estarmos aqui hoje, dado o fato de que existem trilhões de trilhões de sistema solares como o nosso universo afora. Em algum desses sistemas solares, há planetas na distância ideal para permitir a existência de vida. Em algum deles, simplesmente deveríamos existir.

E para muitos cientistas, o mesmo vale para o universo. Esse possui a configuração ideal para a existência de vida (como a perfeita força da energia escura) porque simplesmente deve ser assim. Pensando em um cenário com infinitos outros universos, é inevitável que em algum deles exista o valor ideal para a energia escura permitir a existência das galáxias, dos planetas, e da vida. 

 

O universo em que vivemos pode nāo ser o único, e sim parte de um número infinito de universo que compõem o “multiverso”.

Multiverso

Embora isso pareça coisa de ficçāo científica, existe uma lógica fīsica por trás dessa ideia. E existem várias ideias que tornam o multiverso real – várias teorias físicas independentes que chegam a mesma conclusāo. Embora a maioria dos pesquisadores seja contra a ideia da existência de outros universos, existem pelo menos 5 teorias que sugerem que vivemos em um multiverso. Sāo elas:

Infinitos universos

Infinitos Universos

Os cientistas não têm certeza a respeito da forma do espaço-tempo, embora algumas evidências sugerem que ele seja plano. Se o universo for infinito, ele deve começar a se repetir em algum ponto, porque existe um número finito de modos com que as partículas podem ser dispostas nele.

Então, se você pudesse olhar longe o bastante, veria outra versão de si mesmo – na verdade, infinitas versões de você. Algumas dessas cópias fazem exatamente o que você faz agora, enquanto outros estão vivendo uma vida completamente diferente da sua.

O universo visível é uma esfera com um diâmetro de  92 bilhões de anos-luz, ou 920 sextilhões de km. Além desse limite, o espaço-tempo pode começar a se repetir. Desse modo, uma multiplicidade de universos passa a existir um do lado do outro. [Interpretação dos Muitos Mundos]

Universos bolha

Além dos múltiplos universos criados pela extensão infinita do espaço-tempo, outros universos podem surgir a partir de uma teoria chamada “inflação eterna”. A noçāo que temos a respeito da inflaçāo é a rápida expansāo do universo após o Big Bang. A inflaçāo eterna postula que algumas regiões parem de inflar, enquanto outras regiões continuem inflando, originando assim muitos universos “bolha”isolados.

Nosso universo seria uma pequena bolha no vasto mar do multiverso, repleto de outras bolhas como a nossa. Em alguns desses universos-bolha, as leis físicas podem ser totalmente diferentes das nossas, os tornando completamente estranhos para nós.

Universos paralelos

Universos Paralelos

Trata-se de universos paralelos que pairam fora do alcance do nosso. Essa ideia é prevista pela teoria das cordas, mais precisamente pela existência de 6 ou 7 dimensões além das quatro conhecidas. Além do nosso universo, outros universos tridimensionais podem existir em outras dimensões.

Os defensores dessa teoria afirmam que nosso universo é como uma espécie de placa em um espaço com mais dimensões, bem como uma fatia de pāo dentro de outra bem maior.

Alguns sugerem que esses universos nem sempre estāo totalmente fora de alcance. Às vezes, eles podem se chocar, causando repetidos “Big Bangs” que redefinem um novo universo.

Universos “pais e filhos”

Essa teoria sugere que universos podem ter filhos e cada um tem seu pai. Diferentemente dos seres vivos, nāo é necessário que o universo tenha uma companheira para se reproduzir. Cada universo filho nasce a partir de um buraco negro.

Para entender melhor, é preciso entender a física por dentro de um buraco negro, corpos que engolem tudo o que se aproxima deles. Em seu interior há uma singularidade, o local para onde vai toda a matéria que o monstro cósmico engole. Ela é extremamente pequena, mas sua temperatura e densidade tendem ao infinito.

Situaçāo quase idêntica à origem do universo. O Big Bang surgiu de uma ponto infinitamente pequeno, denso e quente – uma singularidade. Por isso, muitos pesquisadores acreditam que na singularidade de cada buraco negro, existe um novo universo, e que nosso universo é na verdade filho de um universo ainda maior.

 

Universos matemáticos

Cientistas têm debatido muito se a matemática é apenas uma útil ferramenta para descrever o universo, ou se a matemática em si é a realidade fundamental, e nossas observações do universo nāo sāo apenas percepções imperfeitas de sua verdadeira natureza matemática. Se este for o caso, entāo talvez a estrutura matemática específica que compõe o nosso universo nāo é a única opçāo, e de fato todas as possíveis estruturas matemáticas existem como seus próprios universos separados.

 

 

Infinitas cópias de você em infinitos universos

E como seriam esses diferentes e infinitos universos? Infinitos deles, certamente, não teriam as configurações necessárias para o surgimento de estrelas, planetas e galáxias. Portanto, seriam muito diferentes do nosso. Em outros infinitos universos, as configurações são as mesmas. Pode inclusive existir uma Via Láctea e uma Terra, mas o asteroide que aniquilou os dinossauros há 65 milhões de anos pode ter tomado outra direção. Em outras palavras, a evolução seguiria um curso diferente.

Isso acontece porque, embora o número de universos seja infinito, há um limite finito para as configurações que um universo pode tomar, isto é, essas configurações podem se repetir, e podem existir universos idênticos ao nosso no Multiverso.

Assim, em infinitos outros universos, há infinitas cópias de você lendo esse artigo. Em outros, eventos como o ataque ao World Trade Center podem não ter acontecido.